O sistema representativo brasileiro está contaminado e prejudicando o país. Essa é a avaliação do presidente do PSD, Gilberto Kassab. O dirigente da sigla que melhor se saiu na disputa eleitoral de 2024 acredita que o sentimento de indignação visto nas manifestações de 2013 continua presente, mas a classe política não têm respondido a essas demandas da sociedade.
A falta de respostas, diz Kassab, vem abrindo espaço para os influenciadores digitais sem preparo para a vida pública. “Isso contamina o sistema”, afirma o dirigente, também secretário de Governo do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). É diante desse cenário que o “oráculo” da política brasileira, como é visto o dirigente partidário, já faz projeções para a eleição de 2026: “Daqui a dois anos, se as coisas não mudarem e as respostas não aparecerem, vamos ter vários [Pablo] Marçal podendo chegar a ser governador ou até presidente da República.”
Kassab participou nesta sexta-feira (13) do debate promovido pelo Instituto República cujo tema era “O que ainda dá tempo de fazer para mudar o Estado”. No evento, o político afirmou que expoentes que ganharam projeção nacional na campanha municipal deste ano — como o ex-coach que quase chegou ao segundo turno pela prefeitura de São Paulo — são resultados da falta de respostas da classe política à “indignação com a qualidade do Estado brasileiro”.
“O movimento de 2013 não acabou. O brasileiro já não aguentava mais, teve um start e foi todo mundo para a rua. Foi aquele quebra-quebra, que resultou na manifestação de todo o Brasil contra o sistema, elegendo o [ex-presidente Jair] Bolsonaro. O Bolsonaro não entendeu, ele não mudou o sistema. Esse movimento continua”, disse.
Seguindo sua avaliação, Kassab afirmou que em 2022 a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se deu porque a sociedade o viu como uma alternativa à “decepção” que tiveram com Jair Bolsonaro (PL). O presidente do PSD, contudo, diz que o pleito de agora já deu indicativos que o petista também não está atendendo às expectativas.
“O Lula não está correspondendo [à indignação]. Esse movimento continua e quase elegeu diversos prefeitos que eram contra o sistema. Em São Paulo, quase elegeu Marçal. Em Curitiba, quase elegeu a jornalista [Cristina Graeml]”, afirmou Kassab.
De acordo o político, esses novos nomes que despontaram este ano não tem preparo para o mandato que disputaram, o que prejudica o sistema representativo do país e permite que ele “se contamine”.
“Não quero falar mal, porque são pessoas fazendo o seu trabalho, mas são influencers na política. Pessoas que têm popularidade, têm visibilidade, se elegem e que, quando chegam ao início dos seus mandatos, mostram que não estão preparadas. Isso faz com que nossa representação seja pobre. Isso atrapalha a qualificação do nosso Estado, das nossas políticas públicas”, disse.
Kassab completou: “É importante que na democracia, o sistema de representação seja feito por pessoas que tenham vocação política.”
O presidente do PSD, porém, afirmou que há atualmente uma safra de políticos que vem se destacando positivamente. Ao citar exemplos, mencionou majoritariamente aliados e membros de seu partido, como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, os governadores Ratinho Júnior e Eduardo Leite (embora esteja no PSDB, é próximo de Kassab) e os senadores Rodrigo Pacheco e Otto Alencar.
Nesta lista, Kassab deu destaque ao governador paulista, Tarcísio de Freitas, de quem é aliado. “Tarcísio, é uma revelação. Ele é preparado, sabe fazer política, está sendo um excelente governador e, assim como todos esses que eu citei, é uma pessoa que pode ser presidente da República. Não acredito que será em 2026, mas depende dele. É uma decisão dele”, disse.
Kassab é defensor de que Tarcísio concorra à reeleição, ao invés de disputar o Palácio do Planalto. O chefe do Executivo paulista é apontado como um dos principais herdeiros de Bolsonaro para concorrer à Presidência em 2026.
O presidente do PSD, no entanto, tenta retirar do aliado o rótulo de “bolsonarista” e fez questão de frisar que Tarcísio ocupou cargos nos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) antes de integrar a Esplanada de Bolsonaro.
“A diferença [com o ex-presidente] é que Tarcísio conversa melhor com o centro. É diferente do bolsonarismo, que tem uma dificuldade muito grande de ter políticas públicas em conjunto com o centro”, afirmou.