A Transparência Internacional - Brasil recebeu com "surpresa" a determinação do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), de compartilhamento, com órgãos federais e com o Congresso, de documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que abordaram práticas adotadas pela Operação Lava-Jato, especialmente em relação à destinação de recursos decorrentes de acordos.
O despacho do ministro foi proferido no âmbito de um processo que apura supostas ilegalidades em procedimento de cooperação firmada entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Transparência Internacional.
Na ação, o grupo J&F pede que se investigue uma suposta "parceria escusa” entre a força-tarefa da Lava-Jato e a organização não governamental, que envolveria a destinação de recursos oriundos do acordo de leniência firmado com a empresa.
A correição realizada pelo CNJ na 13ª Vara Federal de Curitiba indicou falta de transparência, de imparcialidade e de prudência de juízes que atuaram na Lava-Jato, entre eles o atual senador Sergio Moro (União-PR).
Os fatos se referem especialmente aos repasses de valores decorrentes dos acordos de colaboração premiada e de leniência homologados pelo juízo.
Na decisão, Toffoli encaminhou os documentos à Controladoria-Geral da União (CGU), ao Tribunal de Contas da União (TCU), à Advocacia-Geral da União (AGU), ao Ministério da Justiça e Segurança Pública e às Presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
"A Transparência Internacional - Brasil recebe com surpresa a notícia de que o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, ignorou a posição da Procuradoria-Geral da República e acatou pedido da empresa J&F que tenta imputar atos reconhecidamente falsos à organização", informa nota divulga nesta manhã pela organização.
Segundo a Transparência, "a petição da J&F, submetida oito meses depois do prazo limite para manifestação estabelecido pelo ministro, foi respondida pela Transparência Internacional – Brasil, que apontou não só a violação de prazo, mas também a falsidade das alegações".
Ainda de acordo com a organização, em uma manifestação extemporânea, a J&F "reitera seu assédio judicial contra a Transparência Internacional apresentando, mais uma vez, narrativa construída através de graves distorções e omissões factuais e documentais, citações editadas de maneira descontextualizada e referências a matérias com conteúdos difamatórios, publicadas em veículo patrocinado pela própria empresa".
"A Transparência Internacional jamais recebeu, direta ou indiretamente, qualquer recurso do acordo de leniência do grupo J&F ou de qualquer acordo de leniência no Brasil. A organização tampouco teria — e jamais pleiteou — qualquer papel de gestão de tais recursos", argumenta a ONG.
A organização pontua que as alegações apresentadas pela J&F já foram desmentidas pela ONG e autoridades brasileiras, como o Ministério Público Federal e Procuradoria Geral da República. "Apesar disso, estas fake news vêm sendo utilizadas há quase cinco anos em graves e crescentes campanhas de difamação e assédio à organização", complementa a nota. "Há uma clara tentativa de distorcer os fatos e o papel da Transparência Internacional", defendem.
Em nota, a J&F diz repudiar as declarações infundadas da Transparência Internacional, que, ao criticar o compartilhamento de informações pelo ministro Dias Toffoli, revela mais interesse em desviar o foco do que em promover a verdadeira transparência e o combate à corrupção. É lamentável que uma organização que se intitula defensora da transparência demonstre aversão a processos investigativos que visam esclarecer possíveis irregularidades.
A J&F reafirma, segundo o texto, que a Transparência Internacional, em diversas ocasiões, tentou insistentemente se apropriar de recursos financeiros vinculados ao acordo de leniência.
"Adicionalmente, é importante destacar que a Transparência Internacional, direta e indiretamente, demonstra estar intrinsecamente ligada à Amarribo, organização fundada por Josmar Verillo, que tem papel central em uma conspiração pela tomada da Eldorado Brasil", traz a nota.
"A J&F não cederá a tentativas de manipulação ou pressão, especialmente quando estas buscam subverter os reais propósitos da justiça."
Após a publicação desta reportagem, a Amarribo, citada pela nota da J&F, negou qualquer vínculo com a Transparência Internacional. Em comunicado, a organização informou que houve discussões para que a entidade representasse a Transparência Internacional no país, mas decidiu abrir escritório próprio no Brasil.
Leia a íntegra do comunicado da Amarribo:
"A entidade não mantém qualquer vínculo com a Transparência Internacional, tampouco o seu conselheiro Josmar Verillo.
Em 2012, a Amarribo Brasil organizou uma Conferência Mundial de Combate à Corrupção no Brasil em conjunto com a Transparência Internacional.
Houve na época discussões sobre a Amarribo eventualmente se tornar representante da Transparência Internacional no Brasil, mas a organização decidiu por abrir escritório próprio no país.
Desde então não houve mais qualquer contato com a entidade, a Amarribo jamais participou de qualquer conversa com o Ministério Público ou qualquer envolvido com a operação lava-jato, nem nunca recebeu qualquer recurso proveniente de acordo de leniência, assunto que nunca foi sequer discutido na entidade.
A J&F faz afirmações mentirosas, como é seu modus operandi, e se vale de publicações patrocinadas por eles mesmos para publicação de notícias falsas e difamatórias sobre o nosso conselheiro Josmar Verillo e sobre a nossa entidade.
A Amarribo é uma entidade de voluntários fundada em 1.999 na cidade de Ribeirão Bonito, que se dedica à promoção da cidadania e ao combate à corrupção."